O Sr. Ministro da Agricultura e o desconhecimento em relação ao sector florestal
No passado dia 23 de Agosto fomos confrontados com uma entrevista do Sr. Ministro da Agricultura incitando a ANEFA “a fundamentar as críticas que foram realizadas à Reforma Florestal” e afirmar que “Dos críticos não ouvi nenhuma fundamentação, porque dizer que se está contra a reforma é muito fácil. Agora essas críticas têm de ser objetivadas”.
Com esta afirmação o Sr. Ministro só veio demonstrar que, para além de ter estado desatento nas sessões onde participou, em sede de consulta pública, não leu os comentários apresentados pela ANEFA, dentro do prazo devido, denotando dessa forma o desrespeito total por quem trabalha no sector. A ANEFA esteve presente em todas as sessões de apresentação da Reforma Florestal, através de associados, membros de direção ou elementos da sua estrutura técnica e o que ouvimos em todas elas, foram críticas ao que hoje está aprovado. Críticas no sentido construtivo, de se chegar a um consenso que, de uma forma positiva, permitisse reorientar a Reforma Florestal para o caminho correto, o que não veio a acontecer. Aliás, na última sessão em Santarém, onde o Sr. Ministro nem esteve, esteve presente toda a Direção da ANEFA, tal foi a importância que a Associação deu ao problema.
Contudo, tal como agora, a surdez é ensurdecedora, procurando-se justificar o presente com ações do passado. Achar que a criação das brigadas de sapadores é um trabalho de prevenção e que tem de ser a floresta, através do dinheiro destinado ao investimento na gestão florestal, a pagar essa constituição, é no mínimo, revelar o desconhecimento total no que à prevenção e à gestão florestal profissional diz respeito.
Acreditar que susteve o declínio do montado e que inverteu a situação, revela que o Sr. Ministro anda há demasiado tempo afastado da floresta, desconhecendo o que se está a passar ao nível dos montados, cujo declínio, na nossa opinião, está muito longe de estar controlado.
Aliás, estando, na opinião do Sr. Ministro, o declínio do montado controlado desde 2002, não deixaria de ser uma contradição política, que uma parte significativa dos projetos florestais aprovados até agora no âmbito do PDR2020 se concentrem em algumas zonas da área do montado. Pergunta-se então se as outras regiões/espécies, aquelas que ardem mais, cujo declínio não está controlado, não deveriam ser igualmente ou prioritariamente apoiadas?
Em relação ao cadastro nunca é tarde para esclarecer que um “cadastro florestal”, como o Sr. Ministro lhe chama, implica duas coisas o cadastro rustico das propriedades e o inventário florestal, ferramenta essencial para gerir o património florestal existente. E, Sr. Ministro, não
temos resultados do Inventário Florestal desde 2005, o que revela desde logo a importância que os sucessivos governos têm dado à floresta. Pergunta-se se o Sr. Ministro conseguiria gerir uma empresa com um inventário de 2005?
A ANEFA, nunca terá qualquer problema em discutir a Reforma Florestal com o Sr. Ministro, mas depois de V. Exa ter lido o documento por nós enviado, em tempo oportuno, o que a avaliar pelas suas palavras, nunca o fez.
Lisboa, 28 de Agosto de 2017